terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dissertação SUD: Mórmons praticaram a poligamia após o Manifesto

Apenas dias após um juiz federal derrubar partes das leis anti-poligamia de Utah (EUA), a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias publicou uma dissertação oficial sobre suas ligações históricas com o casamento plural, incluindo um reconhecimento de que a prática persistiu mesmo no início do século 20.

Um artigo cuidadosamente redigido, "O Casamento Plural e as Famílias no Início de Utah", foi postado na segunda-feira na página de tópicos do evangélho em lds.org, o site da Igreja, e explicita o experimento do mormonismo com a poligamia.

Ele vem na esteira da decisão do juiz federal Clark Waddoups emitida sexta-feira de que os estatutos de "coabitação ilegal" de Utah eram inconstitucionais. O ensaio também segue a divulgação, na semana anterior, pela Igreja SUD de um artigo sobre "Raça e o Sacerdócio", repudiando teorias por trás de sua antiga proibição de que negros fossem ordenados ao sacerdócio exclusivamente masculino.

A maioria dos detalhes n na dissertação sobre o casamento plural são bem conhecidos de historiadores, mas alguns deles podem ser novidade para mórmons de longa data ou novos convertidos na Igreja, atualmente com 15 milhões de membros.

A prática de homens SUD de se casar com mais de uma esposa começou com a revelação divina do fundador da Igreja, Joseph Smith, no começo da década de 1840, diz o site. "Subsequentemente, por mais de meio século, o casamento plural foi praticado por alguns Santos dos Últimos Dias".

Em 1890, o artigo diz, Deus "inspirou" o então Presidente da Igreja, Wilford Woodruff, a divulgar um comunicado que ficou conhecido como "o Manifesto", inaugurando o fim da prática da poligamia na Igreja.

No Manifesto, agora canonizado nas escrituras mórmons como "Declaração Oficial 1", Woodruff "declarou sua intenção de respeitar as leis dos EUA que proibiam o casamento plural e usar a sua influência para convencer membros da igreja a fazer o mesmo".

Após esse período, a Igreja pregou a monogamia, mas alguns "novos casamentos plurais foram realizados entre 1890 e 1904, especialmente no México e no Canadá", assim como "um pequeno número" nos Estados Unidos.

Depois de 1904, "a igreja proibiu estritamente novos casamentos plurais", diz o artigo. "Hoje, qualquer pessoa que pratique o casamento plural não pode se tornar ou permanecer como membro da Igreja".

Mórmons não sabem completamente por que Deus instituiu o casamento plural, diz a dissertação, mas ele ensinou aos membros da nova fé o princípio do "sacrifício pessoal", "o espírito do altruísmo e o puro amor de Deus por todos os envolvidos".

Famílias polígamas produziram um grande número de crianças mórmons, permitiu virtualmente a todos os membros que queriam se casar se unir a uma família, reduziu a desigualdade de renda entre as famílias e ajudou a unir "uma população de imigrantes diversa", diz o artigo. "O casamento plural ajudou a criar e fortalecer um senso de coesão e identificação de grupo entre os Santos dos Últimos Dias".

Mórmons vieram a ver-se "como um 'povo peculiar', ligado ao convênio para realizar os mandamentos de Deus apesar da oposição de fora", diz, "desejando suportar o ostracismo por seus princípios".

Jan Shipps, um estudioso da religião americano aposentado em Indiana (EUA) e um preeminente especialista em mormonismo elogia a dissertação como um "sumário bem feito do que foi coberto por vários estudiosos que passaram anos pesquisando o casamento plural".

É também uma resposta oportuna a todas as informações históricas ruins na internet, diz Shipps. "Agora as pessoas que pesquisam no Google uma pergunta sobre a história mórmon vão conseguir boas respostas eruditas, ao invés do tipo que tem sido fornecida por anti-mórmons ou pessoas que não são especialistas na área".

Shipps vê o ensaio como uma parte dos esforços recentes da Igreja na transparência sobre seu passado. "A Igreja se tornou de longe mais aberta sobre sua história do que já foi, tornando informações reais disponíveis aos membros e ao público".

Mesmo que o casamento plural seja uma memória distante na Igreja SUD, as escrituras mórmons — tais como Doutrina e Convênios Seção 132 — descrevem e defendem a prática e permanecem parte do cânone da Igreja.

Além disso, homens podem ser "selados" ou casados para a eternidade (o rito de coroação do mormonismo) com mais de uma mulher, enquanto uma mulher pode ser selada a apenas um homem.

Alguns apontam para essa política como prova de que, sob a doutrina SUD, a poligamia continuará no Paraíso.

O novo artigo da Igreja sobre casamento plural não faz menção do futuro.

Mas, após a decisão de Waddoups na semana passada, um porta-voz da Igreja enfatizou que os mórmons "não praticam a poligamia, independente de sua aceitação legal ou cultural". Mesmo em países que permitem o casamento plural, polígamos não estão autorizados a juntar-se à fé mórmon e membros que que praticam a poligamia são expulsos.

As informações são do Salt Lake Tribune.

Outros fatos sobre a poligamia mórmon
  • Alguns homens mórmons foram recrutados para praticar a poligamia; outros fizeram a escolha por si mesmos.
  • Brigham Young e outros líderes SUD tinham grandes famílias polígamas, mas "dois terços dos homens polígamos tinham apenas duas esposas de uma vez".
  • Mulheres infelizes em seus casamentos podiam se divorciar e casar de novo.
  • Durante a década posterior à chegada dos pioneiros mórmons em Salt Lake City, um número de mulheres SUD, como seus homólogos da fronteira, se casavam aos 16 ou 17 anos ou, raramente, mais jovens".
  • Em 1857, cerca de metade dos residentes do território de Utah viviam em uma família polígama. Esse número caiu para não mais que 30 por cento em 1870 e continuou a cair depois disso.
Fonte: "O Casamento Plural e as Famílias no Início de Utah" em lds.org

Nenhum comentário: